“Todo pecado e blasfêmia serão
perdoados aos homens; mas a blasfêmia contra o espírito não será
perdoada. Se alguém proferir alguma palavra contra o Filho do homem
ser-lhe-á isso perdoado; mas se alguém falar contra o espírito Santo,
não lhe será isso perdoado, nem neste mundo nem no porvir.” - Mateus
12:31 e 32.
Este é outro texto que às vezes é
usado por defensores da trindade. Digo “às vezes” porque o texto, se
lido com atenção, mais compromete a visão trinitariana do que a
favorece. Afinal de contas se existe apenas um Deus com três pessoas
divinas que possuem o mesmo caráter e os mesmos atributos espirituais,
por que o Pai é rico em misericórdias (Êxodo 34:6), o Filho é perdoador
(Lucas 7:48 e 49), mas a terceira pessoa da trindade é implacável, ou
seja, não tolera pecados contra ela?
As três pessoas da divindade não têm
o mesmo caráter? Por que existe esta distinção de pecados contra o Filho
do homem e pecados contra o espírito Santo? Vamos tentar entender um
pouco mais esta questão do pecado imperdoável.
A blasfêmia contra o espírito Santo é
um dos assuntos que causa mais preocupação nos cristãos. (Em geral
costuma-se usar a expressão “pecado contra o espírito Santo”, mas
a Bíblia fala que o pecado imperdoável é a “blasfêmia contra o
espírito Santo”).
Quando eu era criança ouvi um sermão
sobre o pecado contra o espírito Santo onde o pregador enfatizava que
este era o único pecado para o qual não havia perdão. Confesso que após
ouvir este sermão, fiquei incomodado durante várias semanas me
perguntando se já teria cometido este tipo de pecado. Orava a Deus para
que ele abrisse uma exceção e me perdoasse se acaso eu tivesse cometido
o pecado imperdoável. Todos os cristãos já ouviram que o pecado contra o
espírito Santo é imperdoável, mas poucos sabem o que é na prática a
blasfêmia contra o espírito Santo.
Segundo a explicação tradicional, o
pecado contra o espírito Santo consiste na resistência contra a obra do
espírito de nos convencer do pecado. Quando o espírito de Deus atua em
nossa consciência, mostrando um pecado, e resistimos à voz de Deus,
então esta voz tende a diminuir. Chamamos popularmente este processo de
cauterização da consciência, ou seja, o pecado se torna algo tão comum
que a voz de Deus não mais é ouvida e o pecador não sente mais a
necessidade de perdão.
Embora este processo seja real, será
que Cristo se referia à cauterização da consciência quando mencionou a
blasfêmia contra o espírito Santo? Para respondermos a esta questão
vamos analisar o contexto de Mateus 12 e também de Marcos 3, os dois
capítulos que mencionam o pecado da blasfêmia contra o espírito Santo.
De acordo com Mateus 12:22-32 e
Marcos 3:20-30, Jesus estava sendo acusado de expulsar demônios pelo
poder de Belzebu, o maioral dos demônios. Cristo afirmou que foi através
do espírito Santo que o demônio foi expulso:
“Se, porém, eu expulso os demônios
pelo espírito de Deus, certamente é chegado o reino de Deus sobre
vós.” - Mateus 12:28.
Lucas ao mencionar o mesmo episódio,
em vez de utilizar “espírito de Deus”, utiliza-se da expressão “dedo de
Deus”.
“Se, porém, eu expulso os demônios
pelo dedo de Deus, certamente é chegado o reino de Deus sobre vós.”
- Lucas 11:20.
Compare estes dois últimos versos
bíblicos que citamos: Mateus 12:28 e Lucas 11:20. O espírito de Deus é,
simbolicamente, o dedo de Deus. O dedo de Deus indica a forma como Deus
age, neste caso age através do seu espírito (pneuma). Perceba que
os evangelistas ora se referem ao espírito como espírito Santo, ora como
espírito de Deus. Já vimos que são expressões equivalentes.
Mas a questão principal permanece.
Cristo afirmou que os pecados contra o Filho do Homem seriam perdoados,
mas contra o espírito Santo não seriam perdoados. O que Cristo quis
dizer com isto?
Cristo referia-se a si mesmo como
“Filho do Homem”, ressaltando assim sua humanidade. Outros o reconheciam
como “Filho de Deus”, uma clara referência à sua divindade. Cristo, ao
chamar a atenção para a sua condição humana, fazia questão de ressaltar
que suas obras eram feitas pelo poder do Pai, através do espírito de
Deus que lhe foi concedido. O contexto do episódio que analisamos deixa
claro que o pecado imperdoável cometido pelos escribas e fariseus foi a
insistente negação da atuação do espírito de Deus nas obras de Cristo,
considerando tais obras como fruto da atuação do diabo. É este o pecado
imperdoável: a blasfêmia contra o espírito Santo. Sempre que o espírito
de Deus atuar poderosamente e tal fato for interpretado como uma atuação
do diabo, isto constituirá uma blasfêmia contra o espírito Santo.
Outros versos podem nos ajudar a
confirmar qual é o pecado imperdoável: deixar de reconhecer as obras de
Deus diante das evidências:
“Respondeu-lhes, Jesus: Se fôsseis
cegos, não teríeis pecado algum; mas, porque agora dizeis: Nós vemos,
subsiste o vosso pecado.” - João 9:41.
“Se eu não viera, nem lhes houvera
falado, pecado não teriam; mas agora não têm desculpa do seu pecado...
Se eu não tivesse feito entre eles tais obras, quais nenhum outro fez,
pecado não teriam; mas agora não somente têm eles visto, mas também
odiado, tanto a mim, quanto a meu Pai.” - João 15:22 e 24.
Estes dois versos abrem o horizonte
de compreensão dos pecados que podem e que não podem ser perdoados. O
pecado imperdoável é testemunhar as obras e evidências de Deus e
considerá-las como algo do demônio. É rejeitar as evidências claras do
poder de Deus, considerando-as como obras de Satanás. Para este pecado
não há perdão. “Se fosseis cegos”, disse Jesus, “não teríes
pecado algum”. Isto significa que se não houvesse evidências
visíveis do poder de Deus, a incredulidade da liderança judaica poderia
ser justificável, pois neste caso tratar-se-ia de um pecado apenas
contra o Filho do homem. Jesus complementa:
“Porque agora dizeis: Nós vemos,
subsiste o vosso pecado”.
Há pessoas que crêem sem precisar ver
- são bem-aventurados. Há outros que precisam ver para crer - Deus pode
ajudá-los na falta de fé. Há, porém, um terceiro grupo que, mesmo vendo,
não crê - os céticos. E, finalmente, há um quarto grupo: aqueles que
vêem as evidências e obras miraculosas de Deus, não crêem e, além disso,
atribuem tais obras ao demônio. Estes estão lutando contra Deus e
cometendo o chamado pecado para a morte, pelos quais, segundo o apóstolo
João, “não digo que rogue” (I João 5:16). É esta a blasfêmia contra o
espírito Santo.
Ellen White Escreveu:
“Que constitui o pecado contra o
espírito Santo? – Está em voluntariamente atribuir a Satanás a obra do
espírito Santo. ...É por meio do Seu espírito que Deus opera no coração
humano; e quando o homem voluntariamente rejeita o espírito, e declara
ser o de Satanás, intercepta o conduto por meio do qual Deus Se pode
comunicar com ele.” (Testemunhos Seletos, Vol. II, pág. 265).
A celebre oração intercessória de
Cristo no Calvário, “Pai,
perdoa-lhes, pois não sabem o que fazem”,
mostra que os que lhe repartiam as vestes (Lucas 23:34) não haviam
cometido o pecado para a morte, o pecado contra o espírito Santo.
De fato, os romanos não haviam tido a
mesma oportunidade de testemunhar as obras de Deus através do Filho do
homem. Herodes, ao julgar a Cristo, desejava ver sinais, mas Cristo não
lhe respondeu com palavras. (Ver Lucas 23:8 e 9). Por isso, o pecado dos
soldados romanos foi contra o Filho do homem, um pecado perdoável que
mereceu uma oração intercessória de Cristo. Os romanos não pecaram
contra o espírito Santo, pois não tinham observado as evidências e obras
de Cristo realizadas através do espírito de Deus. Cristo disse a Pilatos:
“Aquele que me entregou a ti maior pecado tem.” (João 19:11).
Quando os romanos testemunharam
evidências sobrenaturais não hesitaram em reconhecer a divindade de
Cristo.
“O centurião e os que com ele
guardavam a Jesus, vendo o terremoto e as coisas que haviam sucedido,
tiveram grande temor, e disseram: Verdadeiramente este era Filho de
Deus.” - Mateus 27:54.
Muitos crentes sinceros, baseados na
tradição trinitariana que receberam e que sempre professaram, podem
imaginar que aceitar qualquer outro ensino sobre o espírito Santo seria
um pecado imperdoável. Não estaríamos rebaixando o espírito de Deus se
não o considerarmos como uma pessoa divina? A Bíblia é clara sobre o
pecado imperdoável: Blasfemar contra o espírito Santo é desprezar as
abundantes evidências que temos à nossa disposição atribuindo tais
evidências ao poder do diabo, assim como fizeram os judeus na época de
Cristo. Só blasfema contra o espírito Santo quem resiste contra o poder
de Deus revelado em suas palavras e obras e os atribui ao inimigo. Deus
não leva em conta os tempos de ignorância (Atos 17:30), mas exige um
posicionamento firme daqueles que recebem a luz.
“A condenação é esta: A luz veio ao
mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz porque as obras
deles eram más.” - João 3:19.
Prezado irmão. Blasfemar contra o
espírito Santo é desprezar as inúmeras evidências bíblicas sobre sua
obra e natureza. É se agarrar a conceitos pré-estabelecidos desprezando
a luz que emana do espírito Santo de Deus.
“Daquele a quem muito é dado, muito
se lhe requererá; e a quem muito é confiado, mais ainda se lhe pedirá.”
- Lucas 12:48.
Fica demonstrado aqui que o episódio
relatado em Mateus 12 e Marcos 3 sobre o pecado imperdoável é, na
verdade, um testemunho contra o trinitarianismo e um alerta contra os
que desprezam as evidências da Palavra de Deus.
“Então começou ele a lançar em rosto
às cidades onde se operara a maior parte dos seus milagres, o não se
haverem arrependido, dizendo: Ai de ti, Corazin! ai de ti, Betsaida!
porque, se em Tiro e em Sidom, se tivessem operado os milagres que em
vós se operaram, há muito elas se teriam arrependido em cilício e em
cinza. Contudo, eu vos digo que para Tiro e Sidom haverá menos rigor, no
dia do juízo, do que para vós. E tu, Cafarnaum, porventura serás elevada
até o céu? até o inferno descerás; porque, se em Sodoma se tivessem
operado os milagres que em ti se operaram, teria ela permanecido até
hoje.
Contudo, eu vos digo que no dia do
juízo haverá menos rigor para a terra de Sodoma do que para ti. Naquele
tempo falou Jesus, dizendo: Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da
terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e entendidos, e as
revelaste aos pequeninos. Sim, ó Pai, porque assim foi do teu agrado.
Todas as coisas me foram entregues por meu Pai; e ninguém conhece
plenamente o Filho, senão o Pai; e ninguém conhece plenamente o Pai,
senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar.” - Mateus
11:20-27.
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