Após Mateus 28:19, o texto mais
utilizado para a defesa da trindade e da pessoalidade do espírito Santo
está no discurso de Cristo aos discípulos, quando o Mestre prometeu o
Consolador. (Capítulos 14, 15 e 16 do evangelho de João)
O termo “consolador”, traduzido do
grego “parakletos”, é citado em apenas 5 versos da Bíblia, sempre pelo
apóstolo João ((João 14:16; 14:26; 15:26; 16:7 e I João 2:1). O sentido
original da palavra grega parákletos está relacionado a alguém
que está ao lado a fim de ajudar, defender, consolar. Há várias
traduções possíveis para a palavra grega parákletos. Além de
“Consolador”, tradução mais comum em português, algumas versões usam
“confortador”, Conselheiro, Advogado, e até mesmo Paráclito como
traduções possíveis para a palavra grega parákletos.
Nesta seção vamos fazer uma breve
análise seqüencial, começando por João 14:16 e passando por todos os
versos e contextos onde o parákletos é citado. O objetivo
principal deste capítulo é revelar quem é o parákletos.
Das cinco ocorrências bíblicas da
palavra parákletos, as quatro primeiras saíram diretamente dos
lábios de Jesus e foram relatadas por João, a última saiu da pena do
apóstolo João em sua primeira epístola. Vejamos o que Jesus queria dizer
quando prometeu um parákletos para os seus discípulos.
“E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará
outro parákletos (consolador), a fim de que esteja para sempre convosco.
O espírito da verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê,
nem o conhece; vós o conheceis, porque ele habita convosco e estará em
vós.” - João 14:16 e 17.
Jesus prometeu o Consolador (parákletos).
Mas quem é o parákletos? Cristo mesmo responde: O parákletos
é o “espírito da verdade” (14:16 e 17). Portanto, o “espírito da
verdade” é o Consolador prometido por Cristo. A verdade tem espírito? É
evidente que estamos lidando com elementos simbólicos cuja interpretação
deve ser dada pela própria Bíblia.
Qual é ou quem é o espírito da
verdade? Primeiramente temos que entender qual é a definição de
“verdade” dentro do contexto do capítulo 14. O leitor atento perceberá
que logo nos primeiros versos de João 14 a “verdade” é definida por
Cristo:
“Eu sou o caminho, a verdade e a
vida.” - João 14:6.
Portanto, se a verdade neste contexto
é Cristo, então o “espírito da verdade” pode ser interpretado
naturalmente como o espírito de Cristo. Ao longo deste estudo teremos
outras evidências de que o Consolador, o espírito da verdade, é, de
fato, o próprio espírito de Cristo. Concluiremos que é o pneuma
de Cristo que nos consola.
Qual é a finalidade da vinda do
Consolador? O verso 16 responde: “a fim de que esteja para sempre
convosco”. Esta expressão lhe é familiar? Quem prometeu que estaria
conosco para sempre? A finalidade do parákletos é a mesma de
Cristo: estar para sempre conosco.
“E eis que estou convosco todos os
dias até à consumação dos séculos.” - Mateus 28:20.
De fato, Paulo afirma que “nada nos
poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor.”
(Romanos 8:39)
Ora, o parákletos (Consolador)
é o próprio Cristo que está conosco, não mais em carne, mas atuando
através do seu espírito!
A próxima evidência de que o
parákletos é o próprio espírito de Cristo vem logo em seguida, em
João 14:18. Após dizer que o espírito da verdade “estará em vós”
(vs. 17), Jesus afirma no verso 18:
“Não vos deixarei órfãos, virei
para vós.” - João 14:18
E acrescenta:
“Naquele dia conhecereis que estou em
meu Pai, e vós em mim, e eu em vós.” - João 14:20.
Note a semelhança das expressões nos
versos 17 e 20. No verso 17 Jesus afirma que o espírito da verdade “estará
em vós”, no verso 20 ele repete o conceito afirmando que ele, o
próprio Jesus, estaria
em vós.
Exatamente a mesma expressão que foi utilizada para o espírito da
verdade é agora usada para Cristo. Isto indica claramente que Cristo
estava prometendo enviar o seu próprio espírito, não uma terceira
pessoa. Como não poderia estar ajudando e consolando seus discípulos
pessoalmente, em carne, estaria com eles de outra forma: através de seu
pneuma (espírito).
A manifestação do parákletos
(espírito de Cristo) é prometida também no verso seguinte:
“Aquele que tem os meus mandamentos e
os guarda, esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado pelo meu
Pai, e eu também o amarei e me manifestarei a ele.” - João 14:21.
Como os verbos estão no futuro, fica
claro que Jesus não estava se referindo à manifestação em carne pois
esta já era uma realidade no tempo presente para os discípulos - não há
que se prometer algo que já é realidade. Quando Cristo afirma “e me
manifestarei a ele” (ao que guarda os mandamentos) claramente indica
uma manifestação no futuro, não em carne, mas em espírito. A promessa do
verso 21 está intimamente relacionada à promessa dos versos 16, 17, 18,
19 e 20. É a mesma promessa! Trata-se da promessa de que Jesus não
deixaria seus discípulos desamparados, mas ele viria e se manifestaria a
eles de outra forma: espiritualmente.
A conclusão de que o Consolador, o
espírito da verdade, é o próprio espírito de Cristo é ratificada quando
analisamos os versos 16 a 21 no contexto, considerando que Cristo está
falando de um assunto específico e não de vários assuntos ao mesmo
tempo. Analisar o verso dentro do contexto é a chave para chegarmos a
esta conclusão.
Os versos seguintes apenas confirmam
o que descobrimos até aqui. Veja o verso 22:
“Se alguém me ama, guardará a minha
palavra; e meu Pai o amará, e viremos para ele e faremos nele morada.”
- João 14:20.
Até então tínhamos visto que Cristo
viria e se manifestaria (em espírito) aos seus servos obedientes. Agora,
porém, lemos que o Pai, juntamente com Cristo, faria morada nestes
servos fiéis. Como isso pode acontecer? É simples! Já vimos
anteriormente que Jesus Cristo e o seu Pai têm o mesmo espírito (pneuma)
por isso eles são um. É exatamente este espírito (pneuma) que
virá habitar em nós. Não é errado entendermos que Deus também é nosso
Consolador. O apóstolo Paulo afirma que o nosso Deus é “o Pai das
misericórdias e Deus de toda a consolação” (II Coríntios 1:3).
Também afirma que “Deus, que consola os abatidos, nos consolou...”
(II Coríntios 7:6). Portanto, o espírito da verdade, o Consolador, é
também o espírito de Deus.
Após uma breve explicação em
decorrência de uma pergunta de Judas, no verso 22, Jesus menciona pela
segunda vez o parákletos (verso 26). Agora o Mestre chama o
Consolador (parákletos) de espírito Santo.
“Mas o Consolador (parákletos), o
espírito Santo, ...” - João 14:26.
Não há razão para acreditar que o
Consolador do verso 26 seja diferente do Consolador do verso 16. É o
mesmo parákletos, o mesmo Consolador do verso 16. Mas no verso
26, em vez de chamá-lo de espírito da verdade, Jesus o chama de espírito
Santo. Poderíamos, novamente colocar numa fórmula de igualdade para
interpretar os símbolos:
Nos versos 16 e 17 lemos que
Consolador = espírito da Verdade
No verso 6 temos a definição de
verdade: Verdade = Cristo
Então, usando as duas igualdades
acima, chegamos à seguinte conclusão:
Þ Consolador = espírito da Verdade =
espírito de Cristo
Ou seja, lendo os versos 6, 16 e 17,
já podemos concluir quem é o Consolador (parákletos). Trata-se do
próprio espírito de Cristo. Isso é confirmado posteriormente, vejamos:
De acordo com o verso 26 aprendemos
que Consolador = espírito Santo.
Já estudamos que, de acordo com os
escritos de Paulo espírito Santo = espírito de Cristo.
Finalmente, concluímos que:
Þ Consolador = espírito da verdade =
espírito de Cristo = espírito Santo
O Consolador (parákletos) é o
próprio espírito (pneuma) de Cristo.
Defender uma doutrina baseado em um
verso é algo muito perigoso, principalmente se o contexto não for
analisado apropriadamente e se outras passagens sobre o assunto não
forem consultadas. Mas o mais perigoso é basear um argumento sobre uma
única palavra. E o risco de cometer um erro aumenta quando esta palavra
está inserida entre elementos simbólicos, como é o caso do verso 16.
Infelizmente é exatamente isto que
fazem os defensores da teoria da trindade quando tentam provar que o
parákletos (Consolador) é uma terceira pessoa. No caso, a palavra
chave para a defesa dos trinitarianos é “outro”:
“E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará
outro Consolador a fim de que esteja sempre convosco.” - João
14:16.
Se Cristo prometeu outro Consolador,
como poderia ser o próprio Cristo? Não seria este outro uma terceira
pessoa? Se a intenção de Cristo fosse enviar seu próprio espírito ele
não deveria ser mais claro dizendo que iria mas ele mesmo voltaria em
espírito?
Estas são as questões colocadas pelos
defensores da trindade e podemos, novamente com auxílio de outros textos
bíblicos, esclarecer estes pontos.
Primeiramente, é importante relembrar
que Cristo muitas vezes falava de si mesmo na terceira pessoa do
singular. Um exemplo clássico foi a afirmação de Cristo perante o
sinédrio:
“Desde agora estará sentado o Filho
do homem à direita do Todo-poderoso Deus.” - Lucas 22:69.
Também em diálogo com a mulher
samaritana Cristo proferiu discurso simbólico em terceira pessoa:
“Se conheceras o dom de Deus, e quem
é o que te pede: Dá-me de beber, tu lhe pedirias, e ele te daria água
viva.” - João 4:10.
E falando sobre a verdade, que
simbolicamente é ele mesmo, disse em discurso proferido na terceira
pessoa:
“Então conhecereis a verdade e a
verdade vos libertará... Se o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis
livres.” - João 8:32 e 36.
Em outra ocasião, proferindo parábola
sobre o bom pastor, disse:
“Mas aquele que entra pela porta é o
pastor das ovelhas... as ovelhas ouvem a sua voz, e chama pelo nome às
suas ovelhas.” - João 10:2 e 3.
E ainda falando sobre o pão enviado
por Deus:
“Pois o pão de Deus é aquele que
desce do céu e dá vida ao mundo.” - João 6:33.
Em suma, quando Cristo profere
discurso na terceira pessoa do singular falando sobre a verdade, a água
viva, o bom pastor, o pão de Deus, o parákletos e outros
símbolos, na verdade está falando sobre Si mesmo.
Então por que no caso do Consolador (parákletos)
Cristo utiliza a palavra “outro”?
Convém lembrar que nem sempre a
palavra “outro” refere-se literalmente a uma terceira pessoa. A
palavra “outro” pode ter um sentido simbólico, já que está inserida num
contexto repleto de símbolos. Veja um exemplo em que a palavra “outro”
também tem sentido simbólico:
“O espírito do Senhor se apossará de
ti (Saul), e profetizarás com eles, e tu serás mudado em outro
homem... Sucedeu, pois, que, virando-se ele para despedir-se de Samuel,
Deus lhe mudou o coração; e todos esses sinais se deram naquele mesmo
dia.” - I Samuel 10:6 e 9.
Saul se transformou em literalmente
em outro homem? Não! Era o mesmo Saul, a mesma pessoa, mas agindo
de outra forma. Neste sentido ele foi outro, num sentido
figurado, simbólico. Semelhantemente, o Consolador é o próprio Cristo,
mas atuando de outra forma; não mais em carne, e sim através do
seu espírito.
A intenção de Cristo era dizer que
ele mesmo viria em espírito para ser o parákletos dos seus
discípulos. Todo o contexto deixa isto muito claro. Cristo nunca deixou
seus discípulos com dúvidas. O Mestre usava símbolos, figuras e
parábolas, mas em seguida, para evitar más interpretações, Ele afirmava
literalmente o que havia dito em símbolos. Não foi diferente nesta
ocasião. Após dizer no verso 16 “ele vos dará outro Consolador”
(mensagem figurada), Cristo afirmou no verso 18 “Não vos deixarei
órfãos, voltarei para vós outros.” (mensagem literal indicando que
quem viria era ele mesmo). Dez versos para frente o mesmo paralelismo
“Simbólico X Literal” se repete: No verso 26 Cristo diz simbolicamente:
“Mas o Consolador, o espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu
nome, esse vos ensinará todas as coisas.” Já no verso 28 Cristo
repete a mensagem de forma literal: “Vou e volto para junto de vós.”
A palavra de Deus é fantástica! Os símbolos e parábolas são sucedidos
por explicações e mensagens literais.
Em João 15:26 encontramos a terceira
menção da palavra parákletos (Consolador):
“Quando vier o Consolador (parákletos),
que eu da parte do Pai vos enviarei, o espírito da verdade, que procede
do Pai, ele testificará de mim.” - João 15:26
Novamente no capítulo 15, o
parákletos é chamado de espírito da verdade. Nossa tendência, como
pessoas pesquisadoras, é comparar este verso com os anteriores. Então
surge naturalmente a questão: Quem enviará o Consolador? O Pai ou Jesus?
Numa primeira leitura o texto parece
conter alguma ambigüidade. Cristo enviará o Consolador, mas o Consolador
será enviado “da parte do Pai”, o espírito da verdade “que procede do
Pai”, afirma Jesus. Na realidade esta dualidade já estava presente no
verso 26 do capítulo anterior. Em João 14:26 quem envia o Consolador é o
Pai; em João 15:26 quem envia o Consolador é Jesus. Como explicar esta
aparente contradição?
Já vimos que o espírito de Cristo é
também o espírito de Deus. Ambos compartilham o mesmo pneuma
(espírito). Veja estas afirmações de Cristo:
“Tudo quanto o Pai tem é meu...” -
João 16:15.
“...para que possais saber e
compreender que o Pai está em mim e eu nele.” - João 10:38.
“Não crês tu que eu estou no Pai, e
que o Pai está em mim?” - João 14:10.
Estes versos nos dizem que tudo o que
o Pai tem, também pertence ao Filho. Tudo! Inclusive o seu próprio
espírito (pneuma). É por esta razão que Cristo está no Pai e o
Pai está no Filho, pois são um em espírito, ou seja, compartilham o
mesmo pneuma. Portanto, não há contradição entre João 14:26 e
João 15:26. Cristo envia o seu pneuma e o Pai faz o mesmo.
Sem medo de errar, com convicção de
que o Pai e o Filho compartilham do mesmo espírito, reafirmamos que:
espírito de Deus = espírito de Cristo.
Como conseqüência podemos afirmar que
quando Deus envia o seu espírito, Cristo também envia o seu espírito,
pois não há diferença entre espírito de Cristo e espírito de Deus.
O verbo grego equivalente ao
“proceder”, utilizado em João 15:26, é ekporeuomai. O espírito da
verdade procede (ekporeuomai) do Pai. O significado deste verbo
no original é sair ou partir de dentro de. O verbo ekporeuomai
é utilizado também nos seguintes versos com exatamente o mesmo sentido
original (partir de dentro, do interior de):
“Não só de pão viverá o homem, mas de
toda palavra que procede (ekporeuomai) da boca de Deus.” - Mateus 4:4.
“O que sai (ekporeuomai) do homem,
isso é o que o contamina.” - Marcos 7:20.
“Então vi sair (ekporeuomai) da boca
do dragão, da boca da besta e da boca do falso profeta três espíritos
imundos semelhantes a rãs.” - Apocalipse 16:13.
Em João 15:26 o verbo ekporeuomai
indica que o espírito da verdade sai, ou parte de dentro (do interior)
do Pai. Isso enfraquece a teoria que defende o espírito da verdade (parákletos)
como uma terceira pessoa, independente do Pai e do Filho. O espírito de
Deus está dentro de Deus e não fora dEle. De dentro de Deus o espírito
emana para os seus filhos.
Passemos a analisar o quarto verso
bíblico que menciona o parákletos (Consolador):
“Convém que eu vá, porque se eu não
for, o Consolador (parákletos) não virá para vós; mas se eu for, eu vos
enviarei.” - João 16:7.
A Bíblia deixa claro que o espírito
de Deus já atuava entre os homens. Será que o Consolador, também chamado
de espírito Santo, não estava atuando entre os homens enquanto Jesus
estava na terra? Sim, atuava! Lucas 2:25, sobre Simeão, afirma que “o
espírito Santo estava sobre ele”. “Movido pelo espírito foi ao
templo” (vs. 27). Em Lucas 1:15, o anjo disse a Zacarias que seu
filho, João Batista, seria “cheio do espírito Santo, já desde o
ventre de sua mãe”. Lucas 1:41 afirma que a mãe de João Batista,
“Isabel ficou cheia do espírito Santo”. Sobre seu pai, Zacarias, a
Bíblia também afirma que ficou “cheio do espírito Santo” (Lucas
1:67). A atuação do espírito Santo é anterior à encarnação de Cristo.
Marcos 12:36 afirma que “Davi falou movido pelo espírito Santo”
(ver também Atos 1:16). “Bem falou o espírito Santo aos vossos pais
pelo profeta Isaías” (Atos 28:25). Além disso o Velho Testamento
relata a manifestação do espírito de Deus sobre várias pessoas.
Por que, então, Jesus afirmou que ele
enviaria o parákletos apenas após sua partida? Para responder a
esta pergunta devemos novamente recorrer ao contexto, ou seja, ao início
do capítulo. A chave está no verso 6 do capítulo 16. O coração dos
discípulos se encheu de tristeza quando Cristo afirmou que iria para
Aquele que o enviara, para o Pai. O objetivo de Cristo era consolar seus
discípulos com a promessa do parákletos. A promessa deveria soar
da seguinte forma aos ouvidos dos discípulos: Não estarei mais com vocês
em carne, mas assim que eu partir (corporalmente), estarei convosco em
espírito, ou seja, o meu pneuma (espírito) estará com vocês.
Paulo, certa ocasião, usou uma figura
de linguagem semelhante:
“Porque ainda que eu esteja ausente
quanto ao corpo, contudo em espírito estou convosco, regozijando-me, e
vendo a vossa ordem e a firmeza da vossa fé em Cristo.” - Colossenses
2:5.
É evidente que Paulo usa uma figura
de linguagem, pois ele não era onipresente: não poderia estar
fisicamente em um lugar e seu espírito em outro. Cristo também estava
utilizando figuras e simbolismos neste discurso. Ele mesmo admitiu a
utilização de discurso simbólico neste contexto:
“Disse-vos estas coisas por figuras;
vem a hora em que não vos falarei mais por figuras, mas abertamente vos
falarei acerca do Pai.” - João 16:25.
É neste sentido figurado que o
parákletos (ou espírito Santo, ou espírito de Cristo) é prometido
apenas para após a ascensão de Cristo. Não faria sentido Cristo dizer
que estaria com os seus discípulos através do seu espírito se ele já
estava com os discípulos em carne.
Ainda no mesmo contexto, falando
sobre o parákletos, Jesus disse:
“Quando vier, porém, o espírito da
verdade, ele vos guiará a toda a verdade; porque não falará por si
mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido, e vos anunciará as coisas que
hão de vir.” - João 16:13.
Novamente o Senhor Jesus repete sobre
o parákletos o que já havia dito em João 14:17, que o
parákletos é o espírito da verdade. João 16:13 também afirma que
este “espírito da verdade” não falaria de si mesmo. Ora, essa
característica de não falar de si mesmo é conhecida daqueles que lêem o
evangelho. Sobre quem foi dito várias vezes que não falava de si mesmo?
Como vimos, o espírito da Verdade é o próprio espírito de Jesus Cristo e
este declarou várias vezes que não falava de si mesmo:
“Porque eu não falei por mim mesmo;
mas o Pai, que me enviou, esse me deu mandamento quanto ao que dizer e
como falar.” - João 12:49.
“Não crês tu que eu estou no Pai, e
que o Pai está em mim? As palavras que eu vos digo, não as digo por mim
mesmo; mas o Pai, que permanece em mim, é quem faz as suas obras.” -
João 14:10.
“Se alguém quiser fazer a vontade de
Deus, há de saber se a doutrina é dele, ou se eu falo por mim mesmo.” -
João 7:17.
“Muito tenho que dizer e julgar de
vós. Mas aquele que me enviou é verdadeiro, e o que dele ouvi digo ao
mundo.” - João 8:26.
“Quem não me ama, não guarda as
minhas palavras; ora, a palavra que estais ouvindo não é minha, mas do
Pai que me enviou.” - João 14:24.
“Pois lhes dei as palavras que tu me
deste, e eles as receberam. Verdadeiramente conheceram que sai de ti, e
creram que me enviaste.” - João 17:8.
A mensagem de Cristo não teve origem
nele, mas em seu Pai. Cristo deixou este fato bastante claro como
pudemos confirmar nestes versos. Cristo não falava de si mesmo. Por que
então a mensagem do “espírito da verdade” (que é o espírito de Cristo)
deveria ter origem em si mesma? A origem da verdade está em Deus, o Pai,
e estas palavras de verdade foram transmitidas a nós através do Filho
Unigênito, quando estava entre nós, e hoje tais palavras são
transmitidas pelo espírito (pneuma) do Filho Unigênito, o
parákletos. Mas os textos bíblicos enfatizam qual é a origem das
palavras da verdade: o Pai. Esta semelhança entre as características do
parákletos e de Cristo, não deixa dúvidas. O parákletos é
o próprio espírito de Cristo, não falando de si mesmo, mas transmitindo
as palavras do Pai. O parákletos não é uma terceira pessoa de uma
suposta trindade.
Vejamos a seqüência do capítulo 16:
“Ele me glorificará porque há de
receber do que é meu, e vo-lo há de anunciar.” - João 16:14.
Há três informações neste verso: (1)
“Ele me glorificará”, (2) “Ele há de receber do que é meu”
e (3) “Ele vo-lo há de anunciar”. E a questão é: Quem é o “ele”
do verso 14? Sobre quem Jesus está falando? Sobre o parákletos?
Sobre seu próprio espírito? Sobre o Pai? Ou sobre uma terceira pessoa da
trindade? Quem é o “ele” de João 16:14? A resposta está no verso
seguinte:
“Tudo o que o Pai tem é meu. Por isso
vos disse que há de receber do que é meu, e vo-lo há de anunciar.” -
João 16:15.
É evidente que Cristo está falando a
respeito do Pai nos verso 14 e 15. O verso 14 tem muita semelhança com o
verso 15. Pare por alguns segundos e note as semelhanças. É
incontestável que o verso 14 refere-se ao Pai, pois este é quem
glorifica o Filho.
“Assim também Cristo não se
glorificou a si mesmo, para se fazer sumo sacerdote, mas o glorificou
aquele que lhe disse: Tu és meu Filho, hoje te gerei.” - Hebreus 5:5.
O próprio Cristo admitiu que não
poderia glorificar-se a si mesmo, mas que o Pai o glorificaria:
“Respondeu Jesus: Se eu me glorificar
a mim mesmo, a minha glória não é nada; quem me glorifica é meu Pai, do
qual vós dizeis que é o vosso Deus.” - João 8:54.
A Bíblia mostra que a glorificação é
um ato bilateral entre Deus e o seu Filho. O Pai glorificou o Filho e o
Filho glorificou o Pai através de suas obras:
“Depois de assim falar, Jesus,
levantando os olhos ao céu, disse: Pai, é chegada a hora; glorifica a
teu Filho, para que também o Filho te glorifique... Eu te glorifiquei na
terra, completando a obra que me deste para fazer. Agora, pois,
glorifica-me tu, ó Pai, junto de ti mesmo, com aquela glória que eu
tinha contigo antes que o mundo existisse.” - João 17:1, 4 e 5.
Cristo, falando sobre si mesmo,
afirmou:
“Também Deus o glorificará em si
mesmo, e logo o há de glorificar.” - João 13:32.
Por que Jesus interrompe seu discurso
sobre o parákletos e fala sobre a glória que receberá do Pai nos
versos 14 e 15? Ora, a concessão do espírito de Cristo em sua plenitude
não ocorreria imediatamente após a ascensão de Cristo, mas estava
condicionada à sua glorificação. Se Cristo não recebesse de volta a
glória que tinha antes da encarnação, continuaria despido dos atributos
da divindade, dentre os quais a onipresença. Como então poderia enviar
seu espírito para todo o mundo? Por isso a ordem natural dos fatos
deveria ser obedecida: Em primeiro lugar Cristo deveria ser glorificado
pelo Pai, posteriormente Cristo enviaria o seu espírito (parákletos).
“Quem crê em mim, como diz a
Escritura, do seu interior fluirão rios de água viva. Ora, isto ele
disse a respeito do espírito que haviam de receber os que nele cressem;
pois o espírito ainda não fora dado, porque Jesus ainda não tinha
sido glorificado.” - João 7:38 e 39.
Fica então evidente a razão de Cristo
ter inserido em seu discurso um comentário parentético sobre sua
glorificação (versos 14 e 15). Cristo precisaria voltar para o Pai, ser
glorificado, e depois voltar espiritualmente (enviando o seu pneuma).
Com isto em mente, fica mais simples entender o verso seguinte, o verso
16:
“Um pouco, e não me vereis, e um
pouco ainda e me vereis.” - João 16:16.
Temos neste verso uma clara menção ao
breve período de tempo que Jesus permaneceria pessoalmente (em carne)
com os seus discípulos e depois subiria ao Pai (“um pouco e não me
vereis”). O verso conclui falando sobre o breve período em que
Cristo deveria receber de volta a glória da divindade enviando, logo em
seguida, o seu próprio espírito (“e um pouco ainda e me vereis”).
Não há dúvidas, o parákletos
prometido por Cristo é ele mesmo em espírito, é seu próprio pneuma.
Vejamos se João interpretou desta forma o termo parákletos usado
por Jesus.
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