Robson Ramos
O artigo diz que a
trindade foi uma revelação gradual até para os anjos, responsabiliza a
Deus pelo surgimento do pecado no coração de Lúcifer, contraria
revelações dadas à Sra. White e pode justificar até a aceitação de
famílias homossexuais.
A edição da revista
Ministério
(março/abril de 2003) traz extenso artigo em defesa da trindade.
Em nossa análise o
artigo:
1
- Fundamenta-se na imaginação de teólogos contemporâneos, em lugar da
Bíblia, que é citada em passagens dissociadas do tema proposto;
2
- Contradiz a revelação dada à irmã White em relação ao início do Grande
Conflito;
3
- Apresenta a trindade como uma revelação gradual até para os anjos;
4
– Supõe que a revelação gradual teria sido a razão para o
descontentamento inicial de Lúcifer. Ou seja:
A) Atribui a origem
do pecado à omissão divina de não revelar inicialmente aos anjos a
existência da trindade.
Lúcifer teria se rebelado por causa do convite feito por Deus ao arcanjo
Miguel, sem saber (ele e os anjos) que Miguel era, de fato, Deus Filho,
disfarçado de anjo, e convivendo com eles como se fosse criatura. Diz
ele:
"E aqui está o âmago
da questão: os anjos não sabiam que o arcanjo Miguel, que eles
tinham na conta de um companheiro, de um anjo como tantos outros, era na
verdade o Criador deles, o Filho Unigênito de Deus, a segunda Pessoa da
trindade, o Verbo Divino, através do qual todas as coisas haviam sido
criadas. Até aquele momento eles não sabiam que Deus era uma trindade,
e que uma das Pessoas da trindade, a Segunda, habitava entre eles na
forma de um anjo!" (Pág. 18.)
Sobre encontrar explicações para a origem do pecado, convém relembrar o
que escreveu a Sra. White:
"É impossível
explicar a origem do pecado de maneira a dar a razão de sua existência.
Todavia, bastante se pode compreender em relação à origem, bem como à
disposição final do pecado, para que se faça amplamente manifesta a
justiça e benevolência de Deus em todo o Seu trato com o mal. Nada é
mais claramente ensinado nas Escrituras do que o fato de não haver sido
Deus de maneira alguma responsável pela manifestação do pecado; e de
não ter havido qualquer retirada arbitrária da graça divina, nem
deficiência no governo divino, para que dessem motivo ao
irrompimento da rebelião. O pecado é um intruso, por cuja presença
nenhuma razão se pode dar. É misterioso, inexplicável; desculpá-lo
corresponde a defendê-lo. Se para ele se pudesse encontrar desculpa,
ou mostrar-se causa para a sua existência, deixaria de ser pecado."
O
Grande Conflito,
págs. 492-493.
B) Apresenta um
conceito de Mediação estranho à Bíblia, pois supõe que mesmo antes do
surgimento do pecado no Céu ou em outros mundos em que o pecado não
tenha ocorrido, haveria necessidade da intercessão de Jesus Cristo,
que intermediaria o contato dos seres criados com Deus, em função da
desigualdade entre criaturas e o Criador. Para o autor, Jesus era o
Mediador entre os anjos e Deus sem que estes soubessem. Assim, já não é
o pecado que faz separação entre o homem e Deus, mas simplesmente a sua
condição de criatura.
"Os anjos ficaram
assombrados com a revelação de que o arcanjo Miguel era o Filho de Deus
e 'alegremente reconheceram a supremacia de Cristo, e, prostrando-se
diante dEle, extravasaram seu amor e adoração'.12 Mas o que estava
Cristo fazendo entre eles, como anjo? Antes que o Verbo Se manifestasse
na carne e habitasse entre os homens, Ele adotou a aparência de anjo e
habitou entre os anjos, assumindo pela primeira vez o Seu papel de
mediador.
"É preciso ter em mente que não só os seres caídos,
mas também os não caídos têm necessidade de um mediador entre eles e
Deus, pois 'há misteriosos abismos a serem atravessados, mesmo onde o
pecado não perpetrou a sua obra de ruptura nas mentes criadas!
Obviamente, um enorme ato de mediação é necessário, a fim de cobrir as
infinitas distâncias que inevitavelmente existem entre o Criador e Suas
criaturas'.13" (Pág. 19.)
A
primeira frase entre aspas foi retirado de seu contexto no livro
Patriarcas e Profetas, pág. 36 para dar a impressão de que estaria
de acordo com as revelações recebidas por ela em visão. Você conferirá
isto ao ler o item D desta seqüência.
Já o segundo trecho
entre aspas não foi extraído de algum texto inédito da Sra. White como
alguns poderão supor. É de uma apostila de Carsten Johnssen, da Andrews
University, intitulada "Como Poderia Lúcifer Conceber a Idéia de
Rivalizar-se com Jesus Cristo?". Como se vê, a obra pretende
encontrar explicações lógicas para a origem do pecado.
C) Compara a
divindade a uma família desestruturada, distorcendo o claro ensino
bíblico de
que Deus, quando decidiu criar o homem à Sua imagem e semelhança moldou
no barro apenas um exemplar da nova espécie de seres e, deste primeiro
homem, retirou sua companheira. Soprou Seu espírito (ruach),
fôlego de vida, energia vital, nas narinas de Adão, e Eva já surgiu com
o mesmo espírito, poder para viver, não sendo necessário que Deus o
soprasse novamente em suas narinas. Eva já existia em Adão.
Do mesmo modo, o Filho possui idêntico espírito ao Pai e esse espírito
não é uma terceira pessoa. Pois, quando a divindade quis representar-se
através de criatura, providenciou apenas dois seres, sendo que Eva
estava contida em Adão, do mesmo modo que o Filho desde a eternidade
esteve contido no Pai e não foi criado, mas gerado por Ele em algum
momento a partir de Sua própria substância.
Se Eva pudesse ser comparada a um clone de Adão, pois estivera contida
nele na criação, tendo, portanto, a mesma idade e procedência, formando
literalmente com ele uma só carne, o Filho igualmente poderia ser
apontado, em linguagem humana e imperfeita, como o Perfeito Clone do
Pai. Como escreveu o apóstolo:
"Este é
a
imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação;
pois, nele, foram criadas todas as coisas, nos céus e sobre a terra, as
visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam soberanias, quer
principados, quer potestades. Tudo foi criado por meio dele e para ele.
Ele é antes de todas
as coisas.
Nele, tudo subsiste. Ele é a cabeça do corpo, da igreja. Ele é o
princípio, o primogênito de entre os mortos, para em todas as coisas ter
a primazia, porque aprouve a Deus que, nele, residisse toda a plenitude
e que, havendo feito a paz pelo sangue da sua cruz, por meio dele,
reconciliasse consigo mesmo todas as coisas, quer sobre a terra, quer
nos céus." Colossenses 1:15-20.
"Havendo Deus,
outrora, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos
profetas, nestes últimos dias, nos falou pelo Filho,
a quem
constituiu herdeiro
de todas as coisas, pelo qual também fez o universo. Ele, que é
o resplendor da
glória e a expressão exata do seu Ser,
sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder, depois de ter
feito a purificação dos pecados, assentou-se à direita da Majestade, nas
alturas, tendo-se tornado tão superior aos anjos quanto herdou mais
excelente nome do que eles. Pois
a qual dos anjos
disse jamais: Tu és meu Filho, eu hoje te gerei?
E outra vez: Eu lhe serei Pai, e ele me será Filho?" Hebreus 1:1-5.
"Quero, entretanto, que saibais ser Cristo
o cabeça de todo homem, e o homem, o cabeça da mulher,
e Deus, o
cabeça de Cristo.
...Porque, na verdade,
o homem não
deve cobrir a cabeça, por ser ele imagem e glória de Deus, mas a mulher
é glória do homem. Porque o homem
não foi feito da mulher, e sim a mulher, do homem." 1 Coríntios 11:3,
7-8.
"...Porque
o marido é o
cabeça da mulher, como também Cristo é o cabeça da igreja,
sendo este mesmo o salvador do corpo." Efésios 5:23.
A amorosa submissão
do Filho ao Pai e o amor incondicional do Pai para com o Filho, deveria
servir de exemplo para cada casal humano. Mas a trindade não se parece
com um casal. Pelo contrário, pode representar, no mínimo, uma família
complicada, moderna, em que o Filho não foi gerado pelo Pai, mas por um
terceiro, o Espírito. E se os três são iguais em tudo, como irmãos
gêmeos, o Filho termina sobrinho de Si mesmo e o Pai, tio do Filho.
A comparação infeliz
não termina por aí:
"Essa
família Trinitária serve de modelo para a família humana,
pois Gênesis 2:24 diz que o homem se une à sua mulher, tornando-se “uma
só carne”. Ora, marido e mulher são
duas pessoas,
mas o amor substancia essa união, fazendo com que dois sejam um.
Assim também é o amor que une a trindade."
(Pág. 17.)
"Israel estava cercado por nações
politeístas. Assim, a insistência do Antigo Testamento em dizer que Deus
é um
só tinha por objetivo
combater a idéia desses deuses pagãos. [Que absurdo insinuar que a
singularidade do Deus de Israel era apenas força de expressão!] Deus
não queria que o Seu povo acreditasse que Ele fosse igual a esses
supostos deuses, geralmente constituídos por um
deus
superior, masculino, sua esposa e filho
e mais uma porção de deuses menores." (Pág. 20.)
Segundo o texto temos
na trindade uma "família divina", modelo, que se opõe às famílias
divinas dos pagãos, que eram compostas de pai, mãe e filho. Neste caso,
que tipo de família seria a trindade? Não tenha medo de concluir! Seria
exatamente o modelo de família que os homossexuais hoje buscam, composta
de dois integrantes de um mesmo gênero e seu filho. Note, um é chamado
Pai, mas foi o outro que gerou o Filho! E para completar, a palavra
"espírito" em hebraico (ruach) é feminina e no grego (pneuma)
pertence ao gênero "neutro".
D) Estas citações da
Sra. White também contradizem o principal argumento do artigo, de que a
trindade foi uma revelação gradual até para os anjos:
"O Soberano do
Universo não estava só em Sua obra de beneficência. Tinha um
companheiro - um cooperador que poderia apreciar Seus propósitos,
e participar de Sua alegria ao dar felicidade aos seres criados. "No
princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.
Ele estava no princípio com Deus." João 1:1 e 2. Cristo, o Verbo, o
Unigênito de Deus, era um com o eterno Pai - um em natureza, caráter,
propósito - o único ser que poderia penetrar em todos os
conselhos e propósitos de Deus." Patriarcas e Profetas, pág. 34.
"Não tinha havido
mudança alguma na posição ou autoridade de Cristo. A inveja e
falsa representação de Lúcifer, bem como sua pretensão à igualdade com
Cristo, tornaram necessária uma declaração a respeito da
verdadeira posição do Filho de Deus; mas esta havia sido a mesma
desde o princípio."
Patriarcas e Profetas,
pág. 38.
"Cristo era
reconhecido como o soberano do Céu; Seu poder e autoridade eram os
mesmos de Deus." História da Redenção, pág. 14.
"Antes da
manifestação do mal, havia paz e alegria por todo o Universo. Tudo
estava em perfeita harmonia com a vontade do Criador. O amor a Deus era
supremo; imparcial, o amor de uns para com outros. Cristo, o Verbo, o
Unigênito de Deus, era um com o eterno Pai - um na natureza, no caráter
e no propósito - o único Ser em todo o Universo que poderia
entrar nos conselhos e propósitos de Deus. Por Cristo, o Pai efetuou a
criação de todos os seres celestiais. "NEle foram criadas todas as
coisas que há nos céus ... sejam tronos, sejam dominações, sejam
principados, sejam potestades (Col. 1:16); e tanto para com Cristo,
como para com o Pai, todo o Céu mantinha lealdade." O Grande
Conflito, pág. 493.
"As elevadas
honras conferidas a Lúcifer não eram apreciadas como um dom de Deus, e
não despertavam gratidão para com o Criador. Ele se gloriava em seu
resplendor e exaltação, e aspirava a ser igual a Deus. Era amado e
reverenciado pela hoste celestial. Anjos deleitavam-se em executar suas
ordens, e, mais que todos eles, estava revestido de sabedoria e glória.
Todavia, o Filho de Deus era o reconhecido Soberano do Céu, igual ao
Pai em poder e autoridade. Em todos os conselhos de Deus, Cristo tomava
parte, enquanto a Lúcifer não era assim permitido entrar em
conhecimento dos propósitos divinos." O Grande Conflito, pág. 495.
E ainda, sobre
Lúcifer: "Tudo que era simples ele envolvia em mistério, e
mediante artificiosa perversão lançava dúvida às mais compreensíveis
declarações de Jeová." O Grande Conflito, pág. 497.
Afinal, cremos ou não
nas revelações feitas por Deus a Ellen G. White?
E) Desde a primeira
frase do artigo, o autor usa a imaginação para colocar a Palavra de Deus
em dúvida:
"Imaginemos que Deus fosse apenas uma Pessoa..." (Pág. 17.) Ele
apenas imagina e chega a conclusões fundamentadas nessa imaginação. Por
exemplo: não diz quando os anjos teriam descoberto que havia uma
terceira pessoa divina, invisível, o Espírito Santo, trabalhando no
coração deles, mas afirma que isso aconteceu.
"Nenhuma
menção é feita na Bíblia e nos escritos de Ellen White sobre a obra do
Espírito Santo antes da Criação.
Ellen White diz apenas que “o Pai, o Filho e o Espírito Santo deram-se a
Si mesmos ao estabelecerem o plano da redenção”.15 Entretanto, como
sabemos pela Palavra de Deus que uma de Suas atribuições é “convencer o
mundo do pecado, da justiça e do juízo” (João 16:8),
podemos
imaginar
que durante a rebelião de Lúcifer o Espírito Santo atuou no coração e na
mente dos anjos, incluindo o querubim cobridor, procurando convencê-los,
“com gemidos inexprimíveis” (Rom. 8:26), de que Lúcifer estava
enveredando pelo caminho do pecado e que Deus é justo.
"O Espírito de Deus
conseguiu convencer dois terços de anjos, mas um terço, infelizmente,
não Lhe deu ouvidos.
Podemos concluir,
portanto,
que Lúcifer e seus anjos pecaram contra o Espírito Santo e não puderam
mais permanecer na santa atmosfera do Céu."
(Págs. 19-20.)
Os parágrafos acima
ilustram claramente o que acontece nesse e outros artigos preparados em
defesa da trindade. Usa-se a imaginação para suprir informações que a
Bíblia não traz e chega-se a conclusões absurdamente equivocadas, como
essas de Rubem Schefell.
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